O corpo na oração
Em um ambiente de fé, onde as pessoas oram, observam-se homens e mulheres
se dirigirem à divindade, por meio de palavras, sussurradas ou mesmo colocadas aos
berros.
O peso ou a leveza na voz dos suplicantes têm um corpo e, nessa manifestação
de fé, é comum entre os hebreus ver pessoas que se prostram e colocam-se de joelhos, a
fim de demonstrar respeito e fragilidade; elas também baixam a cabeça, fecham os olhos
e levam as mãos ao rosto; em outro momento, podem elevar seus olhos aos céus,
procurando perceber a presença divina; e, para terminar de compor esse quadro de
louvação, os braços se estendem como se quisessem alcançar a imensidão celestial.
Vários salmos podem ser citados para dar exemplo:
os Salmos 68 e 95 apresentam uma
procissão;
nos Salmos 5 e 95, os fiéis se prostram e, nesse último, também fazem
genuflexão;
no Salmo 138, o corpo todo se coloca em direção ao Templo que ficava no
Oriente.
Assim como as palavras, os gestos do suplicante são destinados ao Deus de
Israel, tal como se presencia em uma conversação em que os participantes estejam
frente a frente e que o falante direciona o seu corpo, a atenção e a tensão dos
movimentos ao seu interlocutor.
Os gestos contribuem, portanto, para a criação do
ambiente de oração, pois os pensamentos e as palavras ganham corpo, o que reforça a
demonstração de fé.
O corpo é
quem carrega essas emoções, e, ao ler o texto bíblico dos salmos, percebe-se que os
salmistas buscam sempre cantar e colocar em evidência esse corpo cheio de vida.
" Andar, correr e saltar são ações compostas por movimentos classificados como
naturais e que estão em atividades motoras corriqueiras do ser humano. Essas ações, em
estados emocionais diversos, ganham diferentes intenções e intensidades de acordo com
o sentimento envolvido na situação: correr para fugir de um cachorro feroz difere-se, em
muito, da corrida até o encontro de alguém que há muito tempo não se vê "
Importância do corpo para a cultura judaica e a relevância dos gestos na comunidade judáica
A AÇÃO DO CORPO
Em seu artigo “Body Idioms and the Psalms”, Andy L. Warren-Rothlin fala
sobre a pesquisa de Gillmayr-Bucher na qual se afirma que os termos referentes à
imagem do corpo contribuem bastante para a o caráter vívido da linguagem do Livro
dos Salmos. Para melhor visualizar essa importância, o autor expressa em números essa
afirmação, ao contabilizar que, de todo o vocabulário dos salmos, 5,7% dos termos
correspondem a partes do corpo humano, e essas palavras só não estão presentes em
sete dos 150 poemas.
Silvia Schroer e Thomas Staubli discorrem sobre as pesquisas do
campo linguístico acerca da noção hebraica do corpo que, segundo eles:
" não apresenta um sistema derivado de princípios esotéricos, mas
parte da observação do corpo e da experiência da vida e se deve a um
sistema linguístico que não desenvolveu nenhum conceito
abstrato, porém mostra claramente que tem sua origem na
corporalidade concreta. "
O que é concreto relaciona-se sempre a algo a mais – com o órgão vem
sinalizada também a sua capacidade de desempenhar uma ação. “Um pensamento
estereométrico-sintético visualiza um membro do corpo juntamente com suas atividades
e capacidades especiais e estas, por sua vez, são concebidas como características de
todo homem.”74 Desse modo, além de carregarem significados relacionados,
obviamente, a função que lhes é própria, esses termos relacionados ao corpo humano
são responsáveis por diversas associações portadoras de valores semânticos
culturalmente definidos, tais como:
a) Associação espacial -Coração, estômago, olho são relacionados ao centro;
cabeça, ao que é elevado e o que está adiante; mão, lado;
pés, para baixo.
b) Associação funcional -Mão pode significar ação, trabalho, posse; boca,
discurso; olhos, visão.
c) Associação psicofísica -Coração relaciona-se ao pensar; ventre, à compaixão.
d) Associação supersticiosa - Mão direita representa o bem, a verdade, a justiça; já a
esquerda representa o oposto
Assim, a relação entre concreto e abstrato dá-se da seguinte forma:
" O pensamento semítico não se direciona a formas, aparências ou
perspectivas, mas sempre para a dýnamis, para o efeito que alguma
coisa tem. Quando os israelitas pensavam na mão, no pé, no nariz
etc., não se detinham em sua forma exterior, mas sim na ação, no
poder que uma mão forte exercia; ou no pé, como gesto de opressão
sobre o pescoço do inimigo, ou no fungar raivoso do nariz "
Essa concepção do corpo vale também ao conceito de nefesh, palavra que
apresenta inúmeros significados e está relacionada ao que está vivo
" Concretamente relacionada com a garganta, portanto, nefesh não
significa apenas o órgão da garganta visível, mas também a garganta
audível, que chama, reclama ou grita, e a garganta ávida, insaciável,
faminta e sedenta, devoradora ou ansiosa pelo ar. Em resumo: tudo o
que entra e tudo o que sai da pessoa humana – ar, água, alimento, voz,
fala – concentra-se no desfiladeiro da goela "
Segundo estudo de Hans Walter Wolff, essa palavra aparece 755 vezes no texto da
Bíblia hebraica, e a Septuaginta traduz 600 vezes por psykhé. Wolff ainda aponta que a
variedade de significado chamou a atenção dos antigos, porém, em estudos atuais,
verifica-se que essa correspondência entre nefesh e psykhé no texto bíblico é menor do
que se pensava. Contudo, segundo Schroer e Staubli, alguns estudiosos chegam até
mesmo a pensar que a tradução bíblica da Bíblia hebraica para o grego não pressupõe os
ensinamentos dos filósofos gregos sobre a alma. A psykhé estaria relacionada ao sentido
de “sopro”, “força vital”, aproximando-se ainda mais do sentido de nefesh. Essa
suposição, porém, não é comprovada.
O que vale ressaltar neste ponto é que a separação entre corpo e alma não cabe
no texto da Bíblia hebraica. Interessa lembrar também que são várias e diversas as
possibilidades de organizar mental e efetivamente o mundo, e, para o povo hebreu, o
corpo é essencial, pois ele funciona como elemento mediador na expressão do Sagrado
entre os indivíduos.Sendo assim, a língua hebraica realça essa característica,
exprimindo a realidade dos falantes ao estar relacionada a seus pensamentos e a suas
ideias. Ao estudar tais palavras, deve-se ter em vista que elas estão em um texto inserido
em um contexto, que deve ser sempre citado de forma cuidadosa e situado tão
frequentemente quanto possível.
A ação do homem atuante na sociedade tem relevância nos salmos, oração que
parte da observação da realidade humana. Além de ser oração, os salmos são poesia, o
que significa que, além de expressarem emoção e fé reafirmada pelo gesto, trazem
também a poesia feita pelo corpo: a dança. A gestualidade associada à linguagem
revela-se de três formas:
Redundante, com o gesto complementar à palavra
Precisa,
quando dissipa ambiguidades.
Substituindo-a, quando o gesto é a própria
informação, o não dito.
Nesse último grupo enquadra-se a dança, que “vem da
necessidade de dizer o que as palavras não dizem.
É um meio eficiente de encontro
consigo e com o próximo, com a criação e o criador. É uma forma de oração, um ritual
social e sagrado”. “A dança expande, em sua plenitude, qualidades comuns a todos os
gestos humanos.” Se o gesto reforça a oração feita pela palavra cantada, a dança é a
própria oração."
"A oração é designada como a via de comunicação da alma humana
com Deus. Injustamente, pois na oração tanto a alma quanto o corpo
participam. Uma oração puramente espiritual é adequada aos anjos,
mas não às pessoas, com sua natureza espírito-corporal. As formas
corporais correspondentes às rezas interiores que pertencem à oração
humana"
A dança é uma linguagem não verbal e simbólica: sua representação ultrapassa a
experiência vivida, e sua execução não pode ser reduzida a palavras. A dança, como se
vê, escapa das “amarras do verbo”, porém, tal como acontece ao signo verbal, ela é expressão de uma sociedade e, consequentemente, está imbuída de valores e crenças
sociais. Isso faz com que a concepção de dança esteja associada à cultura de um povo e
seja, portanto, variável. Lilian Wurzba, em seu artigo “A dança da alma”, esclarece que
a dança se faz por meio do gesto, mas não é puramente gesto, tampouco conta uma
história linear:
" Há muita confusão com relação ao que é a dança.Alguns
concebem a dança como uma interpretação da música ; outros
veem na pantomima a base da dança como se, por meio desta, um
enredo fosse transmitido sem o uso da palavra, recorrendo-se a
movimentos expressivos. Mas isso é mímica: movimentos que
representam uma realidade conhecida, um gesto descritivo.. "
No contexto bíblico, por exemplo, a dança poderia, então, possuir grande valor
espiritual, e assim, ao considerá-la simples gesto, esvazia-se seu conteúdo, uma vez que
seus movimentos estão em um contexto mais amplo, contidos no rito, onde a ação é
simbólica e possui qualidade de um conhecimento transcendente.Cabe ressaltar, no
entanto, que essa caracterìstica de “dança espiritual”, em outra comunidade e em dada
circunstância temporal, poderia não ser real ou relevante.
Cria-se, de fato, ao se iniciar um estudo, uma tensão entre o estudo do fenômeno
da dança – dentro de suas próprias circunstâncias e conforme seus conceitos e atitudes –
e de seu contexto mais amplo e imediato.86 Diante de diversas definições atribuídas à
dança, Wurzba conclui que, uma vez que não se encontra compatibilidade entre as
várias culturas, a influência de uma interpretação cultural deve ser retirada ao classificar
esse fenômeno cinestésico que é a dança.
Sendo assim, a fim de se mostrar uma visão mais abrangente, de imediato será
sugerida uma concepção geral da dança; na sequência, serão atribuídas suas
classificações conforme sua manifestação em uma dada comunidade, ou seja, será
analisada a dança inserida em um contexto, com uma função social determinada e, a
partir disso, será estudado o fenômeno dentro de uma esfera específica, qual seja: a
dança da comunidade judaica manifesta no texto bíblico.
UM CONCEITO GERAL DE DANÇA
O movimento é o fundamento da dança, mas não a dança propriamente dita. Os
gestos produzidos pelo corpo, ao estarem isolados, não passam de uma cena retirada do
cotidiano. A dança escapa ao que é conhecido. Quando um grupo dança, o que se vê não
são pessoas correndo desenfreadamente de um lado para o outro ou simplesmente
saltando. Os movimentos da coreografia podem ser estes, correr e saltar, mas o processo
envolve outros elementos constituintes, e é o que será demonstrado a seguir.
Além do movimento, são vários os fatores que se unem e fazem com que a ação
seja classificada como “dançar”, e um deles é o ritmo, tanto para o movimento e
também para o som, por meio da música. Este é um elemento essencial, mas também
não é o bastante para se construir a dança.
Sabe-se que interpretar o ritmo sugerido pela
música não é dança. E atividades cujos movimentos são simplesmente ritmados também
podem tranquilamente não ser dançar.
Remar, por exemplo, é uma ação que exige um
ritmo a fim de que ganhe forma e se concretize. Uma pessoa que se coloca a remar,
rápida ou lentamente, em um rio de águas cristalinas, em direção ao pôr do sol, pode até
sugerir uma forma poética, mas não significa, por isso, que ela esteja necessariamente
dançando: o remador pode se dirigir a esse lugar para fazer uma ação cotidiana, ir à
outra margem do rio ou navegar para simplesmente pensar na vida.
No exemplo anterior, ao ritmo e ao movimento, soma-se outro elemento, o
espaço, o rio em que o remador conduz o seu barco – sim, uma pessoa pode propor se
arriscar a dançar nesse espaço amplo e instável, considerando, respectivamente, a
imensidão do rio e a fragilidade de um barco navegando em uma corrente de águas
imprevisíveis. A luz avermelhada do pôr do sol ajuda a melhor compor o cenário,
criando variações e efeitos adequados. Assim, o quadro construído pode ser imaginado
como uma expressão poética – ou beirar à cômica, caso o barco vire acidentalmente, e a
pessoa caia, sendo levada a completar a cena com outro repertório rítmico de ação, a
nado –, mas isso é insuficiente para caracterizar essa cena como uma dança.
Até aqui, então, tem-se que movimento, ritmo e espaço, ao serem tomados de
forma isolada e cotidianamente, são elementos insuficientes para a criação de uma
dança, o que faz dar prosseguimento ao esforço para a elaboração de um conceito.
Em seu texto, Wurzba cita o estudioso Curt Sachs, o qual define a dança, em sua
pesquisa, como “„mãe das artes‟, pois enquanto a música e a poesia têm existência no
tempo, a pintura e a escultura existem no espaço, a dança se desenvolve no tempo e no
espaço”.
O tempo e o espaço da dança não correspondem ao tempo real e ao espaço
conhecido.
antes de ser uma expressão, a dança manifesta as experiências interiores do homem e,
por meio de desenhos rítmicos do movimento, representa seu mundo visto, vivido ou
imaginado. “O homem quando dança sai do tempo cotidiano para penetrar no vazio,
onde não há tempo, bem como abandona o seu espaço para chegar no infinito.
“Dança” o
movimento produzido em um tempo ritmado do corpo, executado em um espaço
plástico, capaz de se modificar, de ser moldado –, com intenção artística ou como
forma de expressão subjetiva ou dramática.
A dança espacializa o jogo proposto pelo corpo do ministro, que se torna canto de sua
materialidade.
Essa união entre indivíduo e espaço estabelecida pela dança expande-se, levando
o ministro também a se relacionar com o outro, com o espectador, pois ela amplifica a
“percepção calorosa de uma unanimidade possìvel”. A dança representa a junção entre
os campos cinético, sensorial e linguístico, e a força de sua energia intensifica sua
vivência.
O que encontramos na dança é uma união de seus elementos numa
totalidade indescritível. O espaço, o tempo (o ritmo), os corpos em
movimento, as luzes e os adereços, ou quaisquer outros elementos,
embora presentes, parecem não mais existir, na medida em que dão
lugar à dança. Uma dança é experienciada e reconhecida muito além
de seus elementos constituintes. Toda dança nos remete a uma outra
dimensão da existência, onde as condições espaciais e temporais
adquirem novos significados.
Para a dança ser compreendida em sua totalidade é necessário, além de perceber
o que é comum nessa atividade – os seus elementos constitutivos e a sua natureza,
compartilhados em toda e qualquer dança –, estudá-la e compreendê-la em circunstâncias apropriadas, inserindo-a nos vários contextos existentes, considerando,
por exemplo, o local e a situação artística e cultural, o que impulsiona, desse modo, o
surgimento da noção de tipos de dança.
Por exemplo, uma distinção pode ser feita entre as danças tradicionais,
que geralmente têm uma função cerimonial, comemorativa, são
populares, ou seja, “do povo”, e tendem a perdurar, e as danças sociais
que também são populares, mas estão mais preocupadas com o reforço
de relações individuais e de grupo, são uma forma de entretenimento e
estão sujeitas a rápidas mudanças na moda.
A performance está intimamente relacionada ao percurso experienciado pelo indivíduo e
pela comunidade. “Esse trânsito está fortalecido por um impulso de resistência à
dissolução de componentes culturais e ideológicos que atuam como resíduos culturais
que integram as pessoas a uma região, a uma paisagem, e que passam a ser pele, olhos,
roupas, gestos, fala.
Esse desenvolvimento da dança, isto é, sua modificação segundo o contexto em
que ocorre, será o tema abordado a seguir.
O foco será dado às categorias em que a dança hebraica, presente no texto
bíblico, se insere, tendo como objetivo melhor caracterizá-la e, assim, situá-la na
comunidade, no espaço em que ganha forma.
O MO(VI)MENTO DA DANÇA
A “dança é uma manifestação espontânea do ser humano”, “contemporânea da
humanidade”, pensamento este apresentado por Wurzba .Apesar de ser delicado indicar com
precisão o início da dança, pode-se dizer que ela está presente em épocas e culturas
várias, desde as mais primitivas até nossos dias.
a dança
como fruto da necessidade de expressão do homem, por ela estar relacionada ao que há
de básico na natureza humana. “Assim, se a arquitetura veio da necessidade de morar, a
dança, provavelmente, veio da necessidade de aplacar os deuses ou de exprimir a alegria por algo de bom concedido pelo destino.
Expressão do indizível, a dança sagrada permite que o ser humano transcenda.
O judaísmo traz essa noção de tempo, uma inovação para as religiões até então
praticadas: o tempo tem um começo e um fim.104 Os hebreus recorrem ao deus supremo
em situações extremamente críticas, de crises históricas em que a existência da
comunidade se encontra em estado delicado. A manifestação do deus se dá em um
tempo determinado, inserido na história, e essa história é festejada em celebrações que,
além de banquetes e músicas, traziam lições acerca do passado na nação. “A história
cantada e recitada nessas festas era a história de como Deus havia dado a terra a seu
povo, terra cujos produtos eram consumidos e celebrados nas festas.”105 Nas festas de
Israel o povo se reunia e certamente cantavam os salmos.
São três as grandes festas desse povo
.
Na primeira delas, a Páscoa, celebra-se a
libertação proporcionada por Deus e comemora-se com alegria. Ela ocorria no 14º dia
do primeiro mês e era seguida pela Festa dos Pães Asmos, que durava uma semana, com
uma celebração especial no último dia.
Em outra festa, a Festa das Semanas ou das
Primícias,
Mais tarde conhecida como Pentecostes, os primeiros 50 dias de colheita
eram comemorados.
Já a Festa da Colheita celebrava o fim da colheita.
Ela se unia à
Festa dos Tabernáculos, e ambas compunham uma grande comemoração. Essa festa
relembrava a época em que os israelitas viveram em tendas, e eles, desse modo, deviam
habitar, por uma semana, cabanas feitas de ramos de árvores.
A dança auxiliou o desenvolvimento humano de modo integral ao contribuir para a
sociabilidade humana .
Cabe salientar a importância do termo
“corpo”, indicando que no ritual a mente não é elemento predominante: o movimento é
igualmente essencial. E é o corpo que localiza o homem de modo histórico e social. A
festividade ajuda a manter passado, presente e futuro relacionados.
Ao conservarem vivências e seguirem um calendário preestabelecido – dando um ritmo
ao tempo, com a reatualização e rememoração de eventos –, os ritos sacramentais e as
festas convergem para o mesmo objetivo, o de manter a estabilidade humana.
O desenvolvimento da dança a conduz do templo aos palcos: da dança litúrgica,
celebrada por sacerdotes; vai às aldeias, passando ao folclore que tem caráter popular; e
segue para as festas, os salões. A dança sai daquilo que é ligado ao campo do sagrado e
se apresenta em atos privados de significado religioso. No texto bíblico, é possível
vislumbrar a presença da dança em ambientes festivos de caráter religioso assim como
em festas familiares. Nessas ocasiões, o caráter luxuoso do ambiente é indicado, como
no Salmo 44, em que se espera pela entrada da princesa no palácio real.
Em outras culturas, a dança também é apresentada a grandes públicos, no âmbito
teatral. No entanto, na cultura judaica, não se vê esse movimento, tal como ocorre com
os gregos: a dança executada em peças teatrais, os coros, desenvolveu técnicas gestuais
precisas, gestos miméticos e movimentos significativos.
Única em seu contexto cronológico, [a dança hebraica] é praticada
sem máscaras, indubitavelmente devido a interditos religiosos.
Finalmente, apresenta um caráter absolutamente excepcional: suas
formas e seu espírito – ela conservou sua função religiosa – não
evoluíram: o povo hebreu é o único a não ter transformado sua dança
em arte.
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